Suas perguntas são interessantes ou triviais?

Formular boas perguntas é um desafio em qualquer área da ciência, especialmente no início de carreira. Diante dessa dificuldade, é importante que jovens ecólogos tenham discernimento para responder uma questão crucial: estou respondendo perguntas interessantes ou minhas perguntas são triviais? A resposta depende do momento de sua formação, e de vários outros contextos, como o estado da área de conhecimento de sua pesquisa.

Chegar a uma pergunta relevante depende da ajuda de colegas mais experientes, a começar pelo(a) seu(sua) orientador(a), e seu Comitê de Orientação. O fundamental é ter clareza de todos os elementos que contam para a relevância de uma questão de pesquisa para a sua formação e para sua área de conhecimento. Depende também da viabilidade de se investigar esta questão, dentro dos prazos e recursos que você terá. Um excelente roteiro geral para essa reflexão é o artigo:

Alon, U., 2009. How to choose a good scientific problem. Molecular cell, 35(6), pp.726-728.

Especificamente no contexto da pesquisa em ecologia e evolução, há dois tipos de perguntas que são em geral consideradas triviais, e que você deveria evitar na sua dissertação ou na sua tese:

  1. Há infinitas possibilidades de comparação de duas ou mais situações, momentos, ou locais. Por isso, estudos comparativos precisam de uma justificativa bem fundamentada da sua relevância e contribuição potencial para a área de conhecimento. Em geral, essa justificativa permite enunciar hipóteses respeito do que se espera encontrar e por qual razão. Sem isso, sua questão resume-se a “comparar por comparar”, o que é uma trivialidade.
  2. A ausência de informações biológicas sobre um determinado organismo não é razão suficiente para justificar um estudo. Existem mais de 15 milhões de espécies no planeta e temos informação biológica para uma parcela ínfima deste total. Portanto, a falta de conhecimento sobre uma espécie é a regra e não é um bom argumento. É crucial que você tenha claro outras razões que fizeram você escolher uma espécie ou táxon em particular para investigar, entre os milhares pouco estudados. O mesmo argumento se aplica a escolha de ambientes ou sistemas de estudo.